sábado, 21 de agosto de 2010

o navio (readaptação)

Vou...


Deixei o cais da multidão,

Da terra dos mortais, da confusão.

Navego sem farol, sem agonia,

Distante...

E vou nesta corrente, na maré.

No escuro da minha consolação,

Recordações no meio do mar e me seguem,

E fogem...

A minha solidão é loucura.

Ando numa via já impedida,

Uma viagem perdida,

Um navio à deriva, sozinho...

Não é grande o mal e pouco dura,

E quando afundar a minha vida,

Estará sob medida do mundo.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Visita à psicóloga


Visita à psicóloga


Nesta sexta-feira comecei minha primeira sessão de terapia. Dei início expondo meu profundo descontentamento com as atitudes rudes e grosseiras do meu namorado. Felizmente, não guardei mágoa do último acontecimento desagradável que tivemos.

A psicóloga propôs que eu falasse sobre um tema específico, algo do meu agrado. Abri a sessão dizendo da grande dificuldade de expor o que realmente sinto e penso aos médicos e, falei que sempre vivi de máscaras. Tirá-las é quase insuportável para mim.

A meu ver, as pessoas me acham calma, calada, quieta e, até mesmo, um pouco fria, pois sempre procuro esconder o que sinto.

A sessão prosseguiu, passei, então, a misturar um pouco os assuntos. Fui contando que me rejeitaram ao nascer, meus pais me rejeitaram desde o princípio.

Depois, desabei no choro descontrolado. Eu não consigo me livrar do meu passado. Como alguém pode viver sem lembranças e acontecimentos que se foram? Para mim é impossível.

Não prestei muita atenção às palavras da profissional, meu desespero era tão grande, minha revolta era tão grande, que tomava conta daquela conversa, da sala e, lentamente, transbordava através dos meus olhos e caía na minha face como lágrimas.

Chorei desesperadamente, de uma maneira brutal. Senti-me ridícula, frágil, desamparada.

Minhas máscaras ficaram fora daquela porta, eu estava só, comigo mesma, sem nenhum recurso que me fizesse parecer menos patética e infantil. Eu me comportei como uma criança que, assustada, chora sem enxergar a saída.

sábado, 26 de junho de 2010

Crying In The Rain - A-Ha (Chorando Na Chuva)


Chorando Na Chuva  - Crying In The Rain    (A-Ha )





Eu nunca deixarei você ver

O jeito que meu coração partido está me machucando

Eu tenho meu orgulho e eu sei como esconder

Toda a minha tristeza e sofrimento.

Eu chorarei na chuva...





Se eu esperar pelos céus tempestuosos,

Você não distinguirá a chuva

Das lágrimas nos meus olhos,

Você nunca saberá que eu ainda te amo tanto.

Então, embora os desgostos permaneçam, Eu chorarei na chuva...





Gotas de chuva caindo do céu

Nunca conseguiriam tirar meu sofrimento.

Porém, já que não estamos juntos,

Eu rezo por tempo chuvoso

Para esconder estas lágrimas que eu espero que você nunca veja.





Algum dia quando meu choro estiver acabado,

Eu vou exibir um sorriso e caminhar ao sol.

Eu talvez seja um tolo, mas até lá,

querida, você nunca verá eu me queixar

Eu chorarei na chuva...





Porém, já que não estamos juntos,

Eu rezo por tempo chuvoso

Para esconder estas lágrimas que eu espero que você nunca veja.





Algum dia quando meu choro estiver acabado,

Eu vou exibir um sorriso e caminhar ao sol.

Eu talvez seja um tolo, mas até lá,

querida, você nunca verá eu me queixar

Eu chorarei na chuva...

sexta-feira, 25 de junho de 2010


Você nunca soube o mal que me fez.


Eu estou com raiva de tudo e, não pense que estou errada.

Tenho todos os motivos para brigar com o mundo, porque estou só.

Perdi a direção e, se eu pudesse buscar o caminho, eu ficaria.

Mas, você foi me transformando,

Pouco a pouco,

Nesse amontoado de lembranças.

E, por isso,

Eu carrego um peso no ombro maior que meus pés.

Eu não posso revelar mais nada, pois ficaria nua diante de todos.

E meus sentimentos sempre testemunham contra mim.

Você sempre me acusou de coisas que não fiz.

Eu nunca fui culpada pela sua infelicidade,

Entenda,

Sempre senti uma coisa estranha, um vazio, como se você me devesse algo.

E, você me deve muito.

Na verdade, você me negou o prazer de viver dignamente.

E agora, eu quero sua permissão para partir em paz.

Ao menos uma vez, você poderia me dar algo.

Eu, que sempre te respeitei,

Vim pedir esta recompensa por ter sido igual a você todos esses anos.

Eu não posso mais desperdiçar minha vida,

Como minhas lágrimas são perdidas na chuva.

The Smiths - Asleep

The Smiths - Asleep




Cante pra eu dormir,

Cante pra eu dormir.

Eu estou cansado e eu...

Eu quero ir pra cama.

Cante pra eu dormir,

Cante pra eu dormir.

E então me deixe sozinho,

Não tente me acordar de manhã,

Pois eu terei ido.

Não se sinta mal por mim.

Eu quero que você saiba,

No fundo do meu coração,

Que eu realmente quero ir



Cante pra eu dormir,

Cante pra eu dormir.

Eu não quero mais acordar sozinho.


Não se sinta mal por mim.

Eu quero que você saiba,

No fundo do meu coração,

Que eu realmente quero ir.



Há um outro mundo

Há um mundo melhor

Bem, deve haver...

Adeus!

Ouro de Tolo - Raul Seixas

Ouro de Tolo


Raul Seixas

Composição: Raul Seixas




Eu devia estar contente

Porque eu tenho um emprego

Sou um dito cidadão respeitável

E ganho quatro mil cruzeiros

Por mês...



Eu devia agradecer ao Senhor

Por ter tido sucesso

Na vida como artista

Eu devia estar feliz

Porque consegui comprar

Um Corcel 73...



Eu devia estar alegre

E satisfeito

Por morar em Ipanema

Depois de ter passado

Fome por dois anos

Aqui na Cidade Maravilhosa...



Ah!

Eu devia estar sorrindo

E orgulhoso

Por ter finalmente vencido na vida

Mas eu acho isso uma grande piada

E um tanto quanto perigosa...



Eu devia estar contente

Por ter conseguido

Tudo o que eu quis

Mas confesso abestalhado

Que eu estou decepcionado...



Porque foi tão fácil conseguir

E agora eu me pergunto "e daí?"

Eu tenho uma porção

De coisas grandes prá conquistar

E eu não posso ficar aí parado...



Eu devia estar feliz pelo Senhor

Ter me concedido o domingo

Prá ir com a família

No Jardim Zoológico

Dar pipoca aos macacos...



Ah!

Mas que sujeito chato sou eu

Que não acho nada engraçado

Macaco, praia, carro

Jornal, tobogã

Eu acho tudo isso um saco...



É você olhar no espelho

Se sentir

Um grandessíssimo idiota

Saber que é humano

Ridículo, limitado

Que só usa dez por cento

De sua cabeça animal...



E você ainda acredita

Que é um doutor

Padre ou policial

Que está contribuindo

Com sua parte

Para o nosso belo

Quadro social...



Eu que não me sento

No trono de um apartamento

Com a boca escancarada

Cheia de dentes

Esperando a morte chegar...



Porque longe das cercas

Embandeiradas

Que separam quintais

No cume calmo

Do meu olho que vê

Assenta a sombra sonora

De um disco voador...

terça-feira, 22 de junho de 2010

Fracasso

Fracasso


Hoje uma amiga me contou que tentou, mais uma vez sem sucesso, o suicídio.

Eu cresci ouvindo as pessoas chamarem os suicidas de gente fraca, sem fé, diabólica, ou outro adjetivo qualquer.

As almas que atentam contra a própria vida não podem ser vistas assim.

Eu discordo e sempre discordarei. Essas pessoas são FORTES.

Fortes o bastante para enfrentar o desconhecido.

Fortes o bastante para ir de encontro à lei da natureza: o instinto de sobrevivência.

Elas têm fé o bastante para acreditar em algo melhor após a morte, ao menos, no alívio do sofrimento.

E, não são diabólicas, se é que o bem e o mal existem.

Elas são CORAJOSAS, pois não têm vergonha de expor as suas insatisfações.

De alguma maneira, conseguem algo desejado.

São capazes de admitir e anunciar que a vida não é boa para todos.

A vida é apenas o envelhecer do nosso corpo,

Um passar de horas,

A mudança das estações,

A perda de oportunidades,

Um conjunto de momentos que não voltam e que,

Mais cedo ou mais tarde, será esquecido.

Hoje, em especial, eu me senti fracassada.

Menti.

Ajudei alguém a continuar caminhando nessa estrada deserta: a vida.

Só hoje, ela adiou o seu sofrimento por algumas horas, mas ele voltará.

O sofrimento virá mais tarde e, ela acabará descobrindo o que ocultei:

O desejo de dizer, eu te admiro por essa coragem, vá em frente.

Você foi mais forte que eu.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

visita ao psiquiatra II

Às 17h45min entrei naquela clínica. Estava meio triste, como de costume. Sentia-me angustiada pela burocracia que vinha enfrentando nos últimos dias.


Pedi à recepcionista que marcasse uma consulta no doutor fulano de tal. Ela, então, marcou...

O tempo foi passando e, confesso, estava quase chorando com aquela situação que, para mim, era humilhante.

Olhei em volta e percebi que, pela hora, eu era a última paciente daquele lugar.

Foi então que uma senhora, no alto dos seus pouco mais de 150 centímetros, passou por mim cantando:

-eu preciso dé ti, ó paaaí... eu preciso dé ti, senhôoo...

Senti vontade de sorrir, mas me contive. Ainda pude ouvir a atendente dizendo àquela mulher baixinha:

-fulana, nós ainda estamos com paciente!

A senhora respondeu:

-oh, me desculpe moça, é que a gente tem que ser alegre sempre e, eu sou assim. Não sou do tipo que fica chorando pelos cantos. Tem gente que fica até doida só de pensar nos “pobrema”, mas eu não gosto de ser assim. Minha força vem deus.

Terminou seu pequeno discurso com uma frase ‘pronta’.

Fiquei meio sem jeito, mas sorri ‘amareladamente’ e disse que estava tudo bem.

20min de espera... Silêncio total na clínica e, o telefone toca:

-alô!? Diz a recepcionista olhando fixamente para mim e continua...

-sim... certo... só tem uma... sim... sim, senhor, sim... o senhor... ok. Desligou a telefona ainda olhando nos meus olhos e disse:

-senhora, o doutor fulano de tal chegará em 15 mim.

Agradeci e procurei algumas revistas para passar o tempo.

Passados os 15 mim, chega o doutor acompanhado de uma senhora, digamos, excêntrica.

A senhora senta ao meu lado e não diz uma palavra sequer. Minha curiosidade foi tanta, que larguei a revista discretamente e comecei a dar uma olhada disfarçada para aquela figura.

A “perua” vestia uma blusa de cetim, estampada com um pavão com a calda aberta, como quando o animal está atrás da fêmea no cio. No pescoço, três colares: um escapulário dourado, um colar de pérolas e uma corrente dourada cuja ponta prendia a letra K, rodeada de pedras brilhantes. A calça era jeans e estava bem apertada. Nos pés, um par de sandálias com um salto de, no mínimo, 15 cm, na cor vermelha ‘sangue-fraco’ e um botão dourado na frente.

Perdi-me em meus pensamentos e quase tive vontade de rir, mas ouvi uma voz dizendo:

-senhora carpideira, consultório 05, por favor.

Agradeci e me dirigi à sala.

Ao entrar, encontro novamente um senhor lendo freneticamente meu prontuário. Ele me pediu para sentar, e eu o obedeci.

Silêncio...

Então, o médico falou:

-diga, senhora....

-carpideira de tal, completei.

-sim, carpideira, fale!

-doutor, o clínico geral me deu um atestado para readaptação da minha antiga função , mas a junta médica não aceitou, então, gostaria que o senhor refizesse o documento, já que é psiquiatra.

-claro, mas, primeiro vamos fazer um teste psicotécnico, quero saber se você precisa mesmo mudar de função.

-mas doutor, eu trabalho com crianças, é muito estressante.

-certo, certo... vou fazer uns traços e você vai cobri-los com a mão direita, depois com a mão esquerda e, por último, com as duas mãos.

Aceitei sem reclamar. O doutor me deu um papel com uns traços que pareciam uma estrela incompleta. Comecei a cobrir da forma como havia sido instruída.

Ao terminar o teste, o doutor olhou por alguns instantes e falou:

-carpideira, realmente, você ñ tem condições de trabalhar assim, está muito tensa e insegura. Olha, se fosse um teste do ‘DETRAN’, você seria reprovada. Se fosse um teste para concurso público, você seria reprovada também. Se eu fosse lhe contratar para um emprego, não lhe contrataria.

-mas, doutor, é tão grave assim? Eu ñ agüento mais....

-não se preocupe, vou refazer o documento pedindo o afastamento da sua função e vou lhe dar mais 60 dias de licença médica. Volte quando os remédios acabarem.

Levantou-se apressado da sala e saiu dizendo:

-vamos, querida, que já é tarde e a vida não pode esperar.

domingo, 20 de junho de 2010

O fardo

"É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que eu preciso. Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção... porque parece que sou portadora de uma coisa muito pesada. Sei lá porque escrevo! Que fatalidade é esta?"
Clarice Lispector


Você é portadora de muitas dores,

De muitos desenganos,

De muitas mágoas

De muitas tristezas.

Mas, sim, é verdade: você carrega um fardo.

E ele é realmente insuportável, pois a carga tem o peso muito maior que todos nós.

É o peso de ser forte, quando os outros enfraquecem,

É o peso de amar, mesmo sem cobrar nada em troca,

É o peso da lealdade que destinas às pessoas,

É o peso de se doar, desarma-se sem esperar punhaladas,

É o peso de ser sábia, mesmo convivendo com os medíocres,

É o peso de saber das limitações, mesmo quando tens asas para voar,

É o peso de se mostrar, de ser verdadeira e não negar as tuas contradições.

É o peso de ter superado as mais diversas dificuldades e, ainda assim, ser humilde.

É o peso de ser paciente e esperar por dias melhores.

É o peso de nunca ter perdido a confiança em si mesma e a fé nas pessoas.

É o peso de acreditar no próximo e na bondade,

De se fazer amável, amiga, mãe e mulher.

É esse o fardo, Yolanda, a fatalidade de ter se feito única e essencial na vida de tantas pessoas.

Ela

Ela é intensa, inteira.


Doa-se

Despe-se, fica nua, sem defesas.

Ama com a ternura de uma criança.

Aproxima-se como uma brisa e te faz sorrir.

Apaga todas as tristezas por onde passa, embora guarde um pouco para si.

É leal e guerreira, defende a quem ama como uma fêmea protege a sua cria.

É forte e frágil. Contraditória e coerente,

Paradoxal, como só as pessoas verdadeiras são.

E isso ela é, pois vemos verdade em toda a sua vida:

Sentimos essa verdade

Em suas mãos, que já foram calejadas e hoje enxugam as lágrimas dos seus companheiros.

Em seu olhar, que já esteve perdido e hoje nos mostre tanta confiança.

Em sua pele, que já sentiu a dor de quem não é amada e hoje nos acaricia quando mais precisamos.

Em seus ouvidos, que já ouviram palavras cruas, de desesperança e hoje está sempre aberto para ouvir o que nós temos a dizer.

Em sua boca, que já proferiu o desejo de mudar e hoje acalenta tantas pessoas.

Em sua mente, que nunca se aquietou...

Ela não tem vergonha de exibir seu brilhante senso de superação, pois se ergueu da lama,

Como uma fênix renasce das cinzas e torna à vida mais bonita.

Criatura divina ou satânica,

Fez um pacto consigo mesma para superar todos os obstáculos que a vida lhe impôs.

E, talvez, por isso,

Ela tenha a alma translucida:

Que confia,

Compartilha,

Reparte,

Compreende,

Ajuda,

Agradece.

Ela é única

E sempre está disposta a buscar o que há de melhor em cada um de nós.

Yolanda

Yolanda,
“Existe somente uma idade para a gente ser feliz,
somente uma época na vida de cada pessoa
em que é possível sonhar e fazer planos
e ter energia bastante para realizá-las
a despeito de todas as dificuldades e obstáculos.
Uma só idade para a gente se encantar com a vida e viver apaixonadamente
e desfrutar tudo com toda intensidade
sem medo, nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada em que a gente pode criar
e recriar a vida,
a nossa própria imagem e semelhança
e vestir-se com todas as cores
e experimentar todos os sabores
e entregar-se a todos os amores
sem preconceito nem pudor.
Tempo de entusiasmo e coragem
em que todo o desafio é mais um convite à luta
que a gente enfrenta com toda disposição
de tentar algo NOVO, de NOVO e de NOVO,
e quantas vezes for preciso.
Essa idade tão fugaz na vida da gente
chama-se PRESENTE
e tem a duração do instante que passa.”

Yolanda, você é uma fonte de inspiração! Pois, acredito que está na idade mais bonita. Na idade de viver a vida plenamente, de saber passar através do tempo com extrema sabedoria. A sabedoria de quem ama o instante, a vida, as pessoas e a si mesma.
Parabéns por ser tão bonita!

Para Jane

"" Nada tenho a ver com não gostar de mim. Me aceito impura, me gosto com pecados, e há muito me perdoei. ""


Martha Medeiros



Perdoa-te, Jane, por não ser mais aquela menina ingênua da época da faculdade.
Perdoa-te por vir com essa nova Jane que nos assustou.
Perdoa-te por agir mais com a razão do que com a emoção, embora ainda haja muito sentimento de medo e insegurança trancados em ti.
Perdoa-te por, às vezes, não ser compreendida por nós e causar desentendimentos.
Perdoa-nos de não estar presente em todos os momentos bons e ruins da tua vida.
Perdoa-nos por ter percebido a tua metamorfose e, mesmo assim, continuar buscando a Jane que conhecíamos antes.
Nós te perdoamos pela força que tu tens e que ainda não tínhamos descoberto.
Nós te perdoamos pelas horas mágicas que passamos juntas e que ainda passaremos.
Nós te perdoamos por nos surpreender tanto e, mesmo assim, continuar essencial em nossas vidas.

Visita ao psiquiatra

Às 18h cheguei ao consultório e fui direto ao balcão de informações. Encontrei uma funcionária com uma cara engraçada. Ela tinha a aparência de quem havia saído de uma revista em quadrinhos, falava rápido e estava muitíssimo atarefada, mas era bem atenciosa.

Fiquei alguns minutos imaginando a vida daquela criatura: passar o dia atrás de um balcão não deve ser tão fácil.

Meus pensamentos foram interrompidos por uma voz rouca e aguda que disse:

-Senhora, o que deseja?

Meio atordoada e com um pouco de receio, responde:

-Tenho uma consulta marcada com o médico fulano de tal.

-O “ PI - SI - QUI - A - TRA?"  Perguntou a funcionária meio incrédula.

-Sim, ele mesmo. Respondi um pouco baixo...

Depois de escrever meus dados cadastrais, a funcionária pediu para eu aguardar na sala ao lado...

15 minutos se passaram quando a atendente gritou:

-Senhora Carpideira, consultório 02, por favor!

Agradeci e me dirigi à sala. Ao abrir a porta, encontrei um senhor de olhos baixos que escrevia sem parar no meu prontuário.

Sem que ele mandasse, pedi licença e sentei, esperando o que ele tinha a me dizer. Após alguns segundos, o médico ajeitou seus óculos e olhou para mim, dizendo:

-Pronto, pode falar!

-Doutor, eu estou com problemas... Não durmo bem, estou nervosa e choro com muita facilidade e, às vezes, sem moti... Antes que eu terminasse a palavra, o médico falou:

-Vejo que você está tomando fluoxetina pela manhã e rivotril de 2mg antes de dormir... Você acha que não está melhor com esta medicação?

-Doutor, remédios não apagam uma vida inteira. Respondi angustiada.

-Certo, substitua o fluoxetina pela nortriptilina com 25mg. Volte daqui a 45 dias. Concluiu o médico e chamou o próximo paciente.

Saí do consultório com mais uma receita para ser feliz.